Ser meia célula entre outras milhões,
E se tornar a única, a prometida,
A vencedora...e então decantar a vida!
Meia, uma, duas, quatro... até virar trilhões
Para depois de meses escondidas
Conhecer aquele par de chorões-
Que faça sol ou borboem trovões
Jamais deixarão sua joia mais querida.
Dias depois a casa tem novo dono
Que os faz perder várias noites de sono
Sem ver cansaço atrás de seus sorrisos...
Ele chegou! O amor dos pais encarnado,
Um pequeno Jesus santificado
Por esses dois belos anjos sem juízo.
O santinho vira atração do lar,
Avôs,tios, primos vêm de todo lado
Pra conhecer o fruto do pecado
Antes do pecado vir o amaldiçoar.
Protegido com extremo cuidado
Sobreviveu aos micróbios do ar,
Às alergias que não se sabe curar
E até ao seu inútil batizado.
Aprendeu a falar e balbuciou “bola”!
No natal, sem saber da alta do dólar
Exigiu de um velho presentes caros.
Logo, já tinha todos os dentes
Mas ninguém via o que estava claro
O pequeno Jesus virava gente.
Um dia, no meio dos paternais afetos
Contou que uma amiga deu-lhe um beijo,
E por isso lhe jogou um percevejo...
Já sabia bem os números e o alfabeto,
Era um ótimo filho, aluno e neto.
Se acaso lhe perguntassem seu desejo
Respondia “crescer e ficar esperto”
Arrancando maternais arpejos.
Ganhou cachorro, jogou futebol,
Perdeu guarda-chuva, tomou muito sol,
Cantou em inglês, bebeu água salgada...
Assim passou-se sua doce inocência
Até que um dia veio a pré-adolescência
E, plin plin, as coisas deram uma mudada.
Escondeu do papai seus novos pêlos.
Papai virou pai pela primeira vez;
Deixou crescer bem os cabelos;
No boletim não veio nenhum dez.
Enfim, cedeu aos femininos apelos;
Pedia dinheiro a cada mês;
Se irritava com o excesso de zelos;
Entrou no sonhado curso de inglês.
Ganhou seu próprio computador;
E bem antes de conhecer o amor
Compôs versos apaixonados.
Na brisa hormonal de toda manhã
Se indispôs com a mãe por causas vãs
Encerrando a calmaria reinante.
De pequeno Jesus nada mais tinha,
As marcas indeléveis do pecado
Já manchavam sua face com espinhas.
Pegava Às vezes o carro emprestado,
Os pais esperavam, desesperados,
Nas madrugadas em que ele não vinha...
Não poucas vezes voltou tão bêbado
Que não sequer achava a campainha.
Passou raspando para a faculdade,
Com dezessete anos de idade
Tinha vivido tudo o que queria!
Num ano, beijara mais de cem bocas,
E outras tantas, deliciosamente loucas,
Ele estava certo que comeria.
Sim, elas vieram, junto com o carro...
Já contava dezoito anos de vida,
Mas , apesar de companhias queridas,
Não usava drogas – nem mesmo cigarro.
Toda noite saía para tirar sarro
Junto com os amigos de infância perdida,
Amigos antigos- feito tão raro
Nesses tempos de gente vendida.
Já quase no fim dos seus estudos
Conheceu uma moça que ia mudar tudo
Embora ninguém nisso acreditasse.
O que começara tão carnal
Logo ganhou tintas de espiritual
Deixando que o amor lhe tingisse a face.
Outras namoradas tivera antes.
Só que essa era diferente:
Fez o garoto virar gente.
Roubou-lhe a alma e o semblante.
Quis tomá-lo de amigos e parentes
Deixando-o em situações dilacerantes...
Porém, ele tão bravo e persistente
Optou por seguir o namoro adiante.
Antes já ganhava sua própria grana
Estagiando cinco vezes por semana,
Ou seja, tinha certa autonomia.
Até que um dia, pouco antes da formatura,
Um acaso mudou sua história futura,
Outra historia começou nesse dia.
Nos prazerosos gemidos de “ais”
E nas sacanagens que tanto adora,
Ficou dentro por tempo demais
Não conseguiu tirar antes da hora.
Assim, a meia célula, que já fora,
Cumpriu suas rotinas naturais.
Enquanto ele nem pensava que agora
Migrava pro estranho mundo dos pais.
A possibilidades antes mítica
Depois do exame se multiplica
À escala de improváveis cem por cento.
Pois a ciência perdeu da natureza
Agora diante da cruel certeza
Só resta um suspiro de lamento.
Aquele ser no papel contra a luz
Já possui exatamente o mesmo afeto
Que um certo outro lindo feto
Apelidado de pequeno Jesus.
Pensa nas mini roupinhas azuis
Enquanto tenta passar direto.
Seus pais o erguem na cruz
Como se não quisessem um neto.
Mas tudo há de passar em breve,
E aquela família com ar mais leve
Terá um sorriso diferente do povo:
Um sorriso de colossal euforia
Pela nova e promissora história
Que será a mesma história, de novo!
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